Em março de 1836, era inaugurada a Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo dos Morrinhos, já decorridos 14 anos de fundação do Arraial, que se deu em 1822. A Capela de 1836, feita de paredes de taipa (terra batida), piso forrado com tijolões e coberta de telhas comuns, substituía a pequena igrejinha de 1822, que fora construída do modo mais rústico possível, ou seja, o material empregado na construção da Capela fora cobertura de folhas de bacuri, paredes de madeira roliça e chão batido.

No mesmo ano de 1836, iniciou-se a construção da igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, sendo que sua conclusão se deu em 1848, quando o Arraial já desfrutava do status de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo dos Morrinhos. Era uma igrejinha simples, acanhada, porém acolhedora.

Em 1874, uma comissão de moradores de Vila Bela de Morrinhos, solicitava ajuda ao governo goiano para reforma da Matriz e conclusão do cemitério público, já que a comunidade não dispunha de mais recursos para prosseguir com as obras. O cemitério deixaria de ser na Praça da Matriz e passaria a funcionar na Praça hoje denominada de Praça Dr. Raul Nunes, mais conhecida como Praça da Fonte Luminosa, isso até 1918, quando o Intendente Municipal Alfredo Lopes de Moraes, construiu e inaugurou o cemitério São Miguel.

A lei imperial de primeiro de outubro de 1828, que proibia enterrar cadáveres dentro das igrejas e nos terrenos que as circundavam não era respeitada. Tal exigência só foi cumprida no último quartel do século XIX, com a inauguração do cemitério público.

No cemitério da Praça da Matriz, eram enterrados os defuntos pobres. Os defuntos ricos, importantes, os homens bons e suas mulheres, eram sepultados dentro da igreja, no adro e no corpo da igreja, pela ordem de importância. Essa prática causava um enorme desconforto aos fiéis e um grave risco à sua saúde.

Há relatos de viajantes que passaram por Morrinhos no início do segundo cinquentenário do século XIX, dizendo que era comum, ao passar nas ruelas que circundavam o cemitério na Praça da Matriz, dar de cara com sepulturas reviradas por tatupebas, deixando à vista os cadáveres em decomposição, o que lhes causavam repugnância.

Em 1914, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo sofreu mais uma reforma, deixando-a mais aconchegante. Ainda no final da segunda década do século XX, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo sofreu uma terceira e última restauração, deixando sua fachada totalmente reformulada e diferente.

Contudo, como o material usado em suas paredes fosse de adobe, ou seja, terra comprimida em formas, o tempo se encarregou de deteriorá-la, quase a levando ao desmanche.

Em 1926, veio para a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Morrinhos o padre Francisco Xavier, homem ousado e batalhador. Vendo ele o estado deplorável de sua “nova” Matriz (sua torre do lado direito havia desmoronado), pensou logo em substituí-la por uma Igreja ampla, alta, arejada. E assim foi feito.

No início da década de trinta, ele entregou aos seus fiéis, um templo monumental, bem concebido, todo revestido de madeira nobre, piso importado, ladrilhos de belos desenhos, belíssima via-sacra, nave imponente… Nas palavras do Pastor Tipple, seu grande amigo, Francisco Xavier jogou ao chão uma igreja em ruína e edificou em seu lugar uma genuína obra de arte.

No dia 17 de junho de 1936, chegava o Padre Primo Scossolino, italiano de Údine, para substituir o bondoso, honrado e, ao mesmo tempo, incompreendido Padre Francisco Xavier, que tanto bem fizera a comunidade de Morrinhos, não só na parte religiosa, pois padre Francisco Xavier, o “Alemão”, era pau para toda obra. Estava sempre pronto para atender a quem quer que fosse no que fosse preciso. Foi o primeiro vigário a praticar o ecumenismo em nossa região, incentivando o amor e o respeito aos irmãos de outras religiões, sendo o grande e fiel amigo do Pastor Tipple, “O Bandeirante da Bíblia no Brasil Central”, como o próprio Tiplle se definia.

Padre Francisco Xavier deixou belas sementes de amor, fé, honra e dignidade em nossa terra, que germinaram e deram belos frutos.

Nossa comunidade muito deve a esse valoroso servo de Deus que soube cumprir com denodo sua missão de catequizar os filhos de Deus, clareando suas mentes com a luz do ensino bíblico, para que pudessem ver e viver num mundo melhor. A ele, a nossa eterna gratidão.

Padre Francisco Xavier foi vigário de Morrinhos de 1º de maio de 1926 a 12 de abril de 1936.

Padre Primo Scussolino era construtor. Foi ele o encarregado chefe da construção do prédio do Ginásio Senador Hermenegildo de Moraes, que teve o lançamento de sua pedra fundamental em 1939 e fora concluído, parcialmente, em março de 1942. Dona Maria Amabini de Moraes, dona Fiíca, depositava toda confiança em Padre Primo Scussolino. Foi ele também, o mestre de obra de toda a construção do Cine Teatro Hollywood, inaugurado em 26 de março de 1949. Padre Primo Scussolino foi o primeiro sacerdote de Brasília e o primeiro vigário a ser enterrado ali. Repousa no Cemitério da Boa Esperança, ao lado do pioneiro de Brasília Bernardo Sayão, o Bandeirante do século XX. Padre Primo Scussolino prestou seus bons serviços à comunidade de Morrinhos até o dia 12 de dezembro de 1948.

No dia 7 de outubro de 1970, assumiu a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Morrinhos, o Vigário Vicente Rui Marot, natural da cidade de Ipameri (GO). O novo Pároco, querendo mostrar serviço à sua nova comunidade religiosa, a qual veio liderar, ele, juntamente com uma junta administrativa, criada para estudar as condições físicas da Igreja Matriz, tiveram a terrível ideia de jogar ao chão o Templo Sagrado que o Reverendo Francisco Xavier fizera com todo sacrifício e entregara ao seu povo, para que o mesmo pudesse desfrutar de um recanto de paz, aconchego, conforto, de prece, junto ao seu criador.

Alegando que o prédio era velho, prestes a cair, impossível de reformar, o que era uma tremenda falácia, pois o prédio, além de novo (só tinha 45 anos de existência e estava em ótimo estado de conservação, belo e majestoso), propuseram jogá-lo ao chão, para construir ali um templo moderno, futurista, coisa de primeiro mundo. Corria o ano de 1977.

Nossa comunidade parecia hipnotizada e nada contestou.

Sua omissão contribuiu, assim, com o maior crime já praticado contra o nosso patrimônio histórico-cultural-religioso.

Ficou apenas a TORRE DA MATRIZ, um grito solitário que ecoa diariamente na Praça da Matriz, contra um ato de vandalismo, praticado por aqueles que tinham o dever de protegê-la e honrá-la.

TORRE que chama para si os olhares da comunidade local, alertando-a sobre a defesa de seus bens culturais.

Texto extraído do livro TRIÂNGULO DA HISTÓRIA DE JOSÉ AFONSO BARBOSA.